Brasileiros nunca estiveram tão enrolados com as faturas
Consumidores estão comprometendo uma parte muito grande da renda
Brasília - Nuvens pairam sobre o mundo do cartão de crédito. Após anos
de crescimento exuberante, o setor sofre cada vez mais com um problema
que tira o sono de muita gente: o calote. Em tempos de economia
vacilante, brasileiros nunca estiveram tão enrolados com as faturas e a
inadimplência atingiu 27,3% em abril, nível mais alto para o mês na
série histórica do Banco Central.
Se o critério for mais rígido e também levar em conta quem atrasou o
pagamento do extrato de 15 a 89 dias, o número de consumidores com
problemas salta para 38,8%. São R$ 14,6 bilhões que não entraram nos
cofres dos bancos.
O cartão sempre teve inadimplência mais alta que outras operações. Na
média de 2005 a 2010, por exemplo, o calote médio ficou em 24,1%, bem
superior aos 9% do cheque especial. O problema é que a taxa voltou a
avançar mais rápido e, agora, gira em torno dos níveis recordes da
série.
Comprometimento
Descontrole financeiro, superendividamento e perda de renda são
apontados como as causas do problema. "É sinal de que consumidores
comprometeram parte muito grande da renda", diz o presidente do Programa
de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar), Claudio
Felisoni de Angelo.
Mas os motivos extrapolam os problemas pessoais. "Clientes compram mais
porque acreditam que o ganho de renda dos últimos anos vai se repetir.
Ninguém pensa que a crise pode tirar o emprego ou estancar a renda", diz
o professor de finanças pessoais da Universidade de Brasília, Newton
Marques.
Há um ter
O descontrole financeiro é mais comum entre clientes que têm pouca
familiaridade com o cartão. O problema afeta especialmente a chamada
nova classe média. E, nos últimos anos, a ascensão social de milhões de
famílias aconteceu com um acessório quase obrigatório: o cartão na
carteira. É quase tão simbólico como o iogurte no início do Plano Real.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito, o
universo de cartões de crédito e de loja alcançou 440 milhões em maio. É
como se cada brasileiro levasse 2,3 deles no bolso. Isso sem contar os
que têm apenas a função débito. Em 2003, eram 116 milhões de cartões ou
0,6 por habitante.
O boom aconteceu principalmente porque bancos viram no cartão de
crédito uma porta de entrada para novos clientes. O problema, porém, é
que muitos não sabem como a operação funciona. "Muitos pagavam o mínimo e
achavam que a dívida estava quitada", lamenta um executivo do setor.
O Banco Central até atuou e, há um ano, o pagamento mínimo aumentou de
10% para 15% do total da fatura. O porcentual deveria ter subido para
20% em dezembro, mas o governo desistiu. Se o porcentual tivesse subido,
os problemas poderiam ser ainda piores, dizem os analistas. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
ceiro motivo mais recente: consumidores podem estar sendo,
erroneamente, incentivados a usar o cartão mais que o necessário. "O
esforço do governo em dizer que o juro caiu pode estar fazendo com que
muitos usem mais. O juro caiu em algumas linhas, mas quase nada no
cartão", diz Felisoni.
"Antes éramos jogados do 23.º andar. Hoje, é do 18.º. O resultado final
é o mesmo." Pesquisa recente da Associação dos Executivos de Finanças
(Anefac) mostra que a taxa média do cartão segue em 10,69% ao mês há
pelo menos um ano.
Fonte: Exame.com
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